sábado, 14 de fevereiro de 2009

Eu só posso entender quem não tem mais saco pra me ouvir sofrer. Eu não me aguento mais sofrendo, então, imagino quem tá em volta. Tem dias que voce se pergunta, mas porra, de onde vem tanta dor? Fazem 3 anos, essa porra não era pra tá diminuindo? Choro todos os dias, lembro todos os dias, nas coisas pequenas e nas grandes. Meu peito dói, todos os dias. Entendo as fofocas paralelas : "ai, lá vem ela de novo". E, juro por Deus, eu me controlo o mais que eu posso. Pelo menos pelo okkut e ao vivo. No blog não, porque o blog é meu, lê quem quer, quem gosta. Entendo as reviradas de olho, as bufadas, os "não fique assim", que na verdade querem dizer "não fique assim perto de mim, porque eu to de saco cheio". Os amigos tem prazo. Pra você cumprir. Que tenham prazo pra aturar a gente, certíssimos, faz muito tempo, é um saco, recue. Mas botar data pro sofrimento alheio acabar, não dá. Dai que fico muda. Falo aqui e na terapia, mas a terapia não dá conta da dor, que só alivia quando a gente fala sobre. Quando voce vira um chato profissional, voce acaba não tendo com quem conversar, a verdade é essa. Ou voce ouve um "para de sofrer" ou uma edificante lição de vida. Ninguém mais tem saco. Afinal, Ellen, fazem 3 anos, já ouvimos todas as histórias. Mas, peraí, posso ter um blog?

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Você me pediu um cigarro

Você foi covarde. Seu amor é forte, seu corpo é fraco. Você foi covarde como tantas vezes fui por acreditar que a coragem viria depois. A coragem não vem depois. A coragem vem antes ou não vem. Não posso amaldiçoar sua covardia. Sua boca não é rápida como suas pernas para me agarrar. Minhas pernas não são tão rápidas quanto minha boca para lhe impedir. Você foi covarde. Pela gentileza de sempre dizer sim, repetidos sim, quando não estava ouvindo. Já desfrutei de sua covardia, ríspido recusá-la agora porque não me favorece. Porque não fui escolhido. Não aquecerei seu prato para servi-lo. Não partirei. Serei aquela que deveria ter sido, enterrada sem morrer, a que desapareceu permanecendo perto. Sou seu constrangimento mais alegre. Sua ferida, seu feriado. Com o tempo, serei sua vontade de se calar. De se retirar da sala. Não conhecerá meus hábitos de puxar o café antes de ficar pronto. De abrir as venezianas como quem procura reunir os chinelos ao vento. Você foi covarde, ninguém iria compreendê-lo. Hoje todos o compreendem, menos você mesmo. Você não se compreende depois disso. O que é imenso é estreito. O que é infinito fecha. Até o oceano tem becos e ruas sem saída. Até o oceano. Sua esperança não diminui a covardia. Quer um conselho? Finge que a dor que sente é a minha para entreter sua dor. Saudades ficam violentas quando mudamos de endereço. Saudades ficam insuportáveis quando mudamos de sentido.Você confunde sacrifício com covardia. Compreendo. Eu confundo amor com loucura. Cada um tem seus motivos, sua maneira de se convencer que fez o melhor, fez o que podia. Você me avisou que não tinha escolha. Nunca teria escolha. Você foi educado com a vida, pediu licença, agradeceu os presentes. Confiou que a vida logo o entenderia. E cederia. Engoliu uma palavra para dormir. Não serei vizinho de seu sobrenome. Seus nomes esperam um único nome que ficou para trás. Você não desencarnou, não se encarnou, deixou sua carne parada nas leituras. Morrer é continuar o que não foi vivido. Vai me continuar sem saber. Você foi covarde. Com sua ternura pálida, seu medo de tudo, sua polidez em cumprir as promessas. Você não aprendeu a mentir. Tampouco aprendeu a dizer a verdade. O dia está escuro e não soprarei a luz ao seu lado. O dia está lento e não haverá movimento nas ruas. Você não revidou nenhuma das agressões, não revidará mais essa. Você foi covarde. A mais bela covardia de minha vida. A mais comovida. A mais sincera. A mais dolorida. O que me atormenta é que sou capaz de amar sua covardia. Foi o que restou de você em mim.


Fabrício Carpinejar